Candidato à reeleição pelo MDB afirma, em propaganda na TV, que seu governo reduziu o rombo nas contas públicas de R$ 25 bilhões para R$ 8 bilhões. Faltou dizer que o valor era uma projeção do déficit ao final de seu mandato.

Beta Redação*

A crise financeira do Rio Grande do Sul é um dos assuntos mais citados pelo candidato à reeleição para o governo do estado, José Ivo Sartori (MDB). O atual governador costuma exaltar as medidas tomadas em sua gestão para reequilibrar as contas públicas.

“Já diminuímos o déficit de R$ 25 bilhões para R$ 8 bilhões”

O Truco nos Estados – projeto de checagem de fatos da Agência Pública, feito no Rio Grande do Sul em parceria com o Filtro Fact-checking – verificou a declaração de Sartori, veiculada em seu programa eleitoral na TV, e constatou que falta contexto para a compreensão correta do dado.

Na propaganda, o candidato afirma que, desde que assumiu o governo, em janeiro de 2015, diminuiu o déficit de R$ 25 bilhões para R$ 8 bilhões. A assessoria de imprensa da campanha de Sartori indicou como fonte a Secretaria Estadual da Fazenda (Sefaz).

A Sefaz remeteu à reportagem duas apresentações em Power Point, que apontam, com gráficos e tabelas, a situação das finanças do estado antes e durante o governo do emedebista. Os documentos mostram que os R$ 25 bilhões eram, na verdade, uma estimativa de déficit – e não um rombo real – para o período entre 2015 e 2018.

A projeção foi calculada em um cenário de crise, em que o estado apresentava um déficit crescente desde 2011, se aproximando de R$ 1 bilhão em 2013 e 2014. Para 2015, primeiro ano de governo de Sartori, estimava-se um déficit de R$ 5,4 bilhões. Para os anos seguintes, os valores projetados eram R$ 6,069 bilhões (2016), R$ 6,610 bilhões (2017) e R$ 7,103 bilhões (2018), totalizando R$ 25,182 bilhões.

Em 2015, o rombo foi de R$ 4,762 bilhões, caindo para R$ 325 milhões em 2016. No ano seguinte, o déficit foi de R$ 1,524 bilhão, somando R$ 6,611 bilhões de 2015 a 2017. No início de outubro de 2018, o Portal da Transparência mostra um déficit de R$ 2,938 bilhões. Se o ano fechar com este montante, a soma chegaria a R$ 9,546 bilhões – mais do que os R$ 8 bi citados por Sartori na propaganda, mas bem menos do que os R$ 25 bi projetados no início do governo. Como ainda há entradas e gastos pendentes até o fim de dezembro, esse valor ainda deve se alterar.

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Por se tratar de um valor estimado que, na frase dita por Sartori, soa como um déficit que teria sido registrado na prática, a afirmação foi classificada como ‘sem contexto’. O governador não especifica em sua fala que o dados citados eram uma projeção, deixando espaço para uma interpretação imprecisa. Além disto, como demonstra o gráfico acima, entre 2015 e 2018 o déficit projetado foi sempre superior do que aquele registrado no fim das contas.

A assessoria de campanha do candidato foi comunicada sobre o selo atribuído à frase, mas optou por não se manifestar.

*Este conteúdo foi produzido por Bruna Bertoldi, Camila Tempas, Karina Verona, Lidiane Menezes e Matheus Klassman como resultado de uma oficina do FiltroLab realizada na disciplina Beta Redação – Política, do curso de Jornalismo da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos)